Dizem que a língua é o chicote da bunda, e no meu caso caí vítima exatamente daquilo que critiquei no título do último diário de campo: aconteceram dois shows de bandas locais entre a última publicação e esta, a um eu compareci e esqueci de escrever, a outro nem fui. Em minha defesa, estive abalada com o fim do namoro e precisei de uns dias para juntar meus cacos. Mas que conste nos autos que fui ao último show do Noctus Arcanus em 1o de junho e vi a despedida do baterista, o Max, que, com essa motivação extra, teve uma performance extraordinária. O ponto alto do show,para mim, foram as duas últimas músicas — um cover de The Vampire from Nazareth, do Sceptic Flesh, e uma música autoral prevista para ser lançada no próximo EP da banda.

Consultando minhas anotações, lembrei que o o lineup completo do show era formado por Atrocitus, Noctus Arcanus e Viletale, sendo essa última banda de Blumenau-SC. Atrocitus faz um death metal competente, que por vezes desafia os rótulos do gênero. Do Noctus Arcanus eu sou suspeita para falar porque sou apaixonada pela banda desde a primeira vista. Eles fazem um black metal ~redondinho~, com grande influência sonora das bandas da segunda onda do black metal norueguês mas de um jeito moderno, criativo e com temáticas alinhadas a temas sociais do presente e do passado. Viletale eu não cheguei a assistir inteira, achei o som da banda confuso e o conceito, talvez, ambicioso demais. A banda propõe usar a música como forma de amalgamar literatura e cinema de terror usando influências sonoras que vão de Rammstein a Immortal. “Quem curte Edgar Allan Poe aí?”, perguntou o vocalista para a plateia. Não deu. Soou elitista, arrogante. E o som nem é tudo isso.

O público total desse evento de 1o. de junho foi de umas 60 pessoas, com aproximadamente 20% de mulheres, e um público geral bastante jovem. Foi, proporcionalmente, o rolê com maior presença feminina que vi desde que comecei a observar os aspectos sociais desses shows. Acho que o Noctus tem um efeito boy band, porque os meninos são jovens e bonitos. Num momento posterior perguntei a um dos membros da banda se ele imagina o motivo de tamanho sucesso ~com a garotada~ e ele justificou que 1- o baixista é um cara super popular. De fato, pelas redes sociais ele parece ser. Porém nunca o vejo em nenhum rolê que não seja show da própria banda (sim, estou julgando); e 2 – o vocalista atrai sua própria hoste de groupies porque é gatinho. Ambas as justificativas fazem completo sentido e a conversa meio que acabou por aí.

O motivo de eu ter perguntado sobre o público para o cara do Noctus na verdade diz respeito a uma observação que tenho feito já há meses: Curitiba tem pouquíssimos rolês de metal extremo, mas, ainda assim em cada evento que você for vai ver um público COMPLETAMENTE diferente. Primeiro que eu já reclamei e vou morrer reclamando do pessoal das bandas que só frequenta os próprios shows. Depois, essa atitude reproduz, ao mesmo tempo em que é produzida, pelo fato de que cada banda tem a sua própria panela. Um exemplo absurdo disso foi quando, no ano passado, o Hereticae (black metal antiocolonial de Londrina-PR) participou de um festival com bandas locais bastante populares no cenário do grind e do sludge, um evento super cheio e movimentado, mas que esvaziou quase por completo na hora do show da banda que não era “da galera”. Poucas coisas me deixam tão P da vida.

Porém, retomemos o objetivo da publicação.

Era quinta-feira, 20/06/2024 a data marcada para o ~SATANIC GATHERING~ nome dado pela produtora Necrovoid ao evento que reuniria shows das bandas Introtyl (MX), NervoChaos (BR) e Enthroned (BE) no bar de sempre, o 92graus. Combinei de ir com um amigo, fui buscá-lo de Uber no caminho para o rolê e chegamos lá às 21h. Qual não foi nosso alívio ao chegar lá e ver que junto ao ônibus da banda se encontrava aquele bagageiro de equipamentos!!! Era grande a preocupação que a qualidade do show fosse afetada pelos equipamentos, digamos, *pouco desejáveis* do bar. Sobre isso, aliás, fiz questão de cumprimentar o produtor do show, a quem eu já havia conhecido noutra ocasião. A Necrovoid tem ralado bastante para oferecer produções caprichadas e levar bandas de envergadura internacional a lugares que, do contrário, não receberiam esse tipo de show, especialmente cidades de interior. O rolê estava tão caprichadinho que tinha até mesas na calçada, onde encontramos os meninos do Hokmoth com amigos deles.

Outra surpresa foi a pontualidade impecável do início dos shows. Uma publicação no instagram da produtora indicava que a primeira banda Introtyl, iniciaria às 21h20 e isso realmente aconteceu!!!!! O profissionalismo realmente faz uma super diferença. Sugeri ao Bruce, produtor do evento, que fizesse um cartão fidelidade para fãs que, como eu, vão em todos os shows que ele traz à cidade. Parece uma boa, não? A cada 8 shows você ganha uma camiseta, sei lá. Eu ia curtir!

Uma fila enorme e demorada se formou quando a Introtyl começou a tocar, por isso perdi as primeiras músicas do show. A banda é formada por meninas jovens que não fazem questão de figurinos elaborados para destruir o palco com seu brutal death metal. A qualidade do som também estava muito boa, passei boa parte do show bem embaixo da caixa de som sem perceber falhas técnicas que comprometessem a apresentação da banda. Mais para o final do show a guitarra estava sumindo um pouco, o que causou a impressão de que elas estivessem tocando fora de sincronia, mas foi só impressão mesmo. A vocalista, Kary, é super baixinha! Fiquei impressionada que daquela cholita saísse um gutural tão profundo.

Vou ser sincera, do NervoChaos só vi as duas primeiras músicas. Já os tinha visto noutra ocasião, em São Paulo, e por mais que reconheça tratar-se de uma banda bacana, super competente e reconhecida internacionalmente… eu não me importo. Aproveitei o período do show para conversar com o pessoal mencionado anteriormente, além de atualizar fofocas com alguns amigos.

(continua na pt. 2)

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