Ganhei uma carona pra um evento de doom metal com shows das bandas Pain of Soul, Eternal Sorrow e Helllight, como sempre, no 92 graus. Meu aniversário foi na última quarta-feira, completei 35 anos, e mais ou menos comemorei nesse evento no sábado. Mais ou menos porque é difícil pensar em doom metal e comemoração na mesma frase. Doom metal é um gênero musical lento, pesado e deprimido, com uma atmosfera de “vamos todos morrer mesmo” que apelava muito a mim quando mais nova. Foi por meio do doom que fiz a transição dos Nightwish de adolescente pro metal extremo, e até hoje o que escuto mais é death e black metal mesmo.
Os horários das bandas foram divulgados pelo instagram e cumpridos à risca pela organização do evento, que iniciou às 20h30 com a Pain of Soul. Cheguei lá por volta das 20h40 e a banda já havia começado, enfrentei uma pequena fila para entrar e peguei o show quase na metade. O instrumental da Pain of Soul me lembrou um pouco o Anathema da época do Serenades. A banda tem um vocal feminino contralto e um vocal masculino gutural, e é, assim como as outras bandas da noite, formada por um pessoal mais velho. Por volta de uns 50 anos, eu acho. A faixa etária do público também era mais alta que nos últimos eventos, muito embora lá também estivessem presentes uma criança de uns 8 a 10 anos e alguns adolescentes acompanhados dos pais.
Não prestei muita atenção ao show do Pain of Soul. A noite estava muito fria, eu estava muito agasalhada e suava sem parar naquela sauna que é o 92 graus. Fiquei alternando períodos dentro e fora do bar, ora conversando com alguém, ora apenas observando. Estava ansiosa para ver o Eternal Sorrow, banda curitibana de doom metal que está completando 30 anos. Eles já eram antigos quando comecei a ouvir metal na adolescência, mas eu ainda não tinha tido a oportunidade de vê-los tocar. Embora faça shows de vez em nunca, é uma banda super competente. Eles fazem um doom tradicional, com riffs simples mas muito bem feitos mesmo. É um som cativante, tanto quanto o gênero musical permite ser, hahaha.
Nas minhas idas e vindas entre um show e outro, fiquei pensando no que escreveria, já que não conseguia prestar muita atenção ao que acontecia à minha volta. Sofrendo com sono e agitação mental, meu raciocínio parecia fragmentado, fora de ordem. Me perguntei o quanto o estado de espírito do cientista pode influenciar a coleta e análise de dados qualitativos no campo das ciências humanas. Quais informações, de fato, sou capaz de coletar e processar num trabalho de campo como esse? Como posso estabelecer minhas amostragens? Aliviada por não ter que responder a essas perguntas em um mestrado ou doutorado, fico contente em poder trabalhar com etnografia por hobby.
O bar estava cheio, e de acordo com o livro de registro foram 101 pagantes, além do pessoal das bandas com seus respectivos convidados. Mulheres pareciam ser qualquer coisa entre 25 e 30% do público total, com idades variadas. Entre os homens era possível perceber a presença de caras mais velhos, com mais de 40 anos. Durante o show do Eternal Sorrow fiquei prestando atenção em um grupo de três ou quatro adolescentes certamente menores de idade que assistiam a apresentação da banda. Um deles vestia uma camisa antiga da Eternal Sorrow. Imagino que sejam da família de algum dos membros da banda, indo assistir a um show daquele ~tio roqueiro~ e ajudando a carregar os instrumentos para uma van depois. Parecia uma iniciação saudável à vida noturna, foi bonitinho de ver.
Eu não sabia o que esperar do show do Helllight. Já gostei muito de Funeral Doom — subgênero mais depressivo desse tipo de metal já consideravelmente deprimido — mas ando tão sem paciência pra esse tipo de som… Porém QUE. SHOW. FODA. PUTA. MERDA. Alguns vocais limpos foram, do meu ponto de vista, desnecessários, mas ainda assim foi simplesmente fantástico. O que mais gostei foram os riffzinhos de black metal, com a corda da guitarra solta. Foi pesadão, foi brutal, e, ao mesmo tempo, tudo se encaixava tão bem que o som parecia me fazer flutuar. Coisa fina. Chique mesmo.
Ultimamente tenho estado dada a compras por impulso e acabei caindo de lá com uma camiseta muito bonita do Helllight que eu provavelmente nunca vou usar. A pilha de camisetas só aumenta porque, mesmo eu preferindo usar camisa e blusa social, sinto prazer em apoiar as bandas que admiro comprando merch. O show terminou por volta da 1h e, embora todos os conhecidos parecessem ter planos de tomar uma saideira, ninguém parecia concordar quanto ao lugar onde isso aconteceria. Fomos eu e um amigo a pé até o Empada com Birita porque sabíamos que um evento com flash tattoo estaria acontecendo lá.
No entanto, quando chegamos, o evento parecia jamais ter acontecido. Estava frio, o bar tinha pouca gente, e uma dupla musical vestida à moda de Johnny Depp tocava My Sacrifice, do Creed. Coloquei um pé lá dentro e imediatamente dei meia volta. Alguém hava dito que o Lado B estaria aberto, então lá fomos nós… porém é claro que estava fechado. O Lado B sempre fecha a 1h, já perdi as contas de quantas vezes fui varrida para fora de lá nesse horário. Um bar na Trajano Reis parecia movimentado, tinha uns punks, uns góticos, umas banquinhas vendendo acessórios, um dj, um mendigo dançando. Tudo muito aleatório. E o pior chopp que já provei na minha vida, lá se foram 16 reais no lixo.
Com a tarifa do uber super cara àquele horário sugeri ao meu amigo que fôssemos a pé até a casa da minha mãe, onde eu passaria a noite. Fomos conversando e paramos no posto de gasolina — esse sim, aberto — e compramos um pacote de salgadinho. Curitiba, como sempre, nos falhou. Com a sensação de estar frustrada, mas não surpresa, encerrei essa noite um pouco confusa, com alguma diversão e poucas observações etográficas.
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