Depois de um mês inteiro sem ir a nenhum show de metal, fui ontem, quinta-feira 08/08, ao show do Batushka no CWB Hall. Os ingressos estavam comprados desde fevereiro, quando eu ainda estava namorando, e, na ocasião, até brincamos que não poderíamos terminar até a data do show. Não rolou, kkkk. Na verdade minha preocupação em terminar o namoro era pegar os ingressos dos shows que já estavam comprados; isso me deu um pouco de dor de cabeça, mas deu tudo certo. E lá fui eu.

O CWB Hall é uma casa de shows que fica no bairro Parolin, afastado do centro. Para mim, que moro no sentido oposto, fica super fora de mão. É uma casa grande, com capacidade para 705 pessoas de acordo com a placa dos bombeiros. Para o evento de ontem, foram vendidos trezentos e poucos ingressos (obrigada pela informação, Felipe!), ou seja, meia lotação. A proporção entre mulheres e homens era cerca de 25% para 75%, e lembro de ter visto apenas duas pessoas com traços fenotípicos negros. Não prestei atenção se havia pessoas racialmente ambíguas, como eu. A configuração do lugar é um pouco estranha, porque a acústica não é muito boa se a casa não estiver cheia. Especialmente no mezanino, o som fica ruidoso, quase com eco. Não ajuda também o fato de os amplificadores da casa serem bem ruinzinhos, apesar da mesa de som de bom padrão. Todo show que acontece lá tem algum BO com o som.

As bandas de abertura eram Hokmoth e Paradise in Flames. Eu ainda não tinha visto o Hokmoth ao vivo, desencontrei dos últimos eventos em que a banda tocou, que costumam ser uma vez ao ano. No show de ontem eles estrearam com muito sucesso um novo vocalista. Ele tem um projeto solo que ouvi pela primeira vez há pouco tempo e me deixou muito bem impressionada. Infelizmente a qualidade do som prejudicou bastante as três primeiras músicas, mas, após alguma correria do pessoal da produção, o som melhorou muito. Foi um show intenso, com músicas bastante atmosféricas apesar do som porrada. Existe um equilíbrio muito fino entre a porradaria sonora e a construção de paisagens sonoras por meio da atmosfera que não são muitas bandas que conseguem atingir, e eu acho que o Hokmoth faz isso super bem. Inclusive vi alguns caras do Batushka, não sei se da banda ou da produção, na pista curtindo o show.

Outro ponto negativo do CWB Hall, na minha opinião, é o bar. Sou cabreira com lugares que só vendem chopp porque a qualidade da bebida com frequência deixa a desejar. por isso, em geral, prefiro consumir bebidas lacradas, seja long neck ou refrigerante. No entanto, em frente ao rolê havia camelôs vendendo cervejas boas em lata (tinha até Guinness!), e no intervalo entre a primeira e a segunda banda preferi pegar uma bebida ali na calçada mesmo. Estávamos em cinco pessoas conversando ali quando resolvi voltar para dentro para dar uma olhada na segunda banda.

Diferente do Hokmoth, que foi a banda local convidada, Paradise in Flames é a banda convidada da turnê e está viajando com o Batushka para todos os shows no Brasil. Trata-se de uma banda de metal sinfônico, do tipo que faz um som pesado mas tem tecladista e um vocal lírico feminino. Não é segredo que eu detesto metal sinfônico, acho que esgotei minha cota desse tipo de som quando era adolescente, época em que esse gênero musical era conhecido como gothic metal. Por isso não fiz questão de assistir duas músicas inteiras, e logo voltei para a calçada pra falar bobagem com o pessoal até a hora do show do Batushka.

Voltando ao Batushka e ao camelô, os camelôs em frente ao rolê também tinham camisetas da banda à venda. Eram mais baratas e bem mais bonitas que as oficiais vendidas no evento. Eu tinha esperança que na banca oficial estivessem vendendo um modelo de camiseta cinza que só tem na loja oficial latino americana que, lógico, não entrega no Brasil. No final do show também vi algumas pessoas da produção com ecobags da banda e fiquei querendo DEMAIS.

Meu ingresso era para o mezanino, por isso quando entrei tratei de encontrar um lugar de frente para o palco com uma grade para eu me escorar (faixa etária: me escorando). A cenografia do palco estava sendo montada, com candelabros, ícones, turíbulos, crucifixos e toda a parafernália de uma missa ortodoxa que me fez lembrar meu padrinho, que é grego ortodoxo. O backdrop do palco era um tecido enorme com uma imagem da virgem maria com chifres de veado e lágrimas pretas, mesma estampa da camiseta (feia) da turnê. As capas dos discos do Batushka desde o cisma são bem cafoninhas, tem até uma com o retrato do tsar Nikolai II. Kkkkk uó.

A banda apareceu “desmontada” para dar os últimos ajustes na cenografia e equipamento, depois voltou ao palco devidamente paramentada: todos os membros usam batinas com capuzes e máscaras de tecido preto que cobrem todo o rosto. As batinas reproduzem aquelas usadas por monges schema, uma graduação do clero regular (aquele que nunca sai do monastério) ortodoxo que não entendi muito bem para que serve.

Monges ortodoxos cujas batinas são reproduzidas no figurino de palco do Batushka.

Com as velas acesas e os turíbulos recendendo a incenso e mirra, o show começou com a primeira música do primeiro disco da banda, Yekteniya I do álbum Litourgiya. O setlist havia sido divulgado há alguns dias, após o início da turnê latino americana em El Salvador, o que me permitiu escolher os melhores lugares no rolê para filmar minhas músicas favoritas. Depois delas, desci do mezanino para a pista, onde a qualidade do som era melhor. Felizmente, durante o Batushka não houve qualquer problema com o som e a qualidade esteve, no geral, muito boa. A segunda parte do show tinha músicas disco mais recente da banda, Maria, de 2022, que têm uma pegada forte de doom metal. Foi uma escolha muito legal concatenar no setlist a trajetória sonora da banda, dos cânticos religiosos com black metal dos primeiros discos até o doom — e a balalaika — da produção mais recente.

O show teve pouco mais de 1h de duração, o que, pra mim, é o ideal, especialmente pelo evento ter acontecido numa quinta-feira. Fiquei satisfeita e bem impressionada com a apresentação da banda, que não deixou absolutamente nada a desejar. Não pude deixar de ficar um pouco apreensiva com o uso de fogo no palco, mas tudo parecia bem controlado e o efeito estético, somado à defumação de incenso, fez desse show uma experiência sensorial diferente daquelas que já vivi em tantos outros shows de metal extremo. Quando o evento terminou dei um tempo em frente ao rolê comentando impressões gerais com os conhecidos à medida que o pessoal ia saindo, e ainda dei sorte de conseguir um Uber não muito caro de volta para casa.

Ouvi boatos que no começo do próximo ano o Batushka “original” também vem tocar no Brasil. Quem sabe não rola escrever mais pra frente uma crônica comparando ambas as experiências?

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