Eu quase desisti de ir no show ontem. Tive uma crise feia de ansiedade na noite anterior e estava me sentindo exausta e com a mente anuviada, sem conseguir prestar atenção em nada. Porém é certo que teria me arrependido amargamente de perder dois showzassos que aconteceram no Jokers Pub, com as bandas The Laws Kill Destroy e Archgoat.

O Jokers Pub é um marco da rua São Francisco, no centro histórico de Curitiba. Surgida como um prolongamento do Largo da Ordem, a rua já teve o nome de Rua do Hospício, por abrigar o Hospício dos padres da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, e de Rua do Fogo, nome dado em meados do século XIX. Esse nome advinha da balbúrdia da rua que passara a ser ponto de prostituição e boemia. Na verdade, até a década de 1990 a rua era conhecida pela prostituição, tendo sido, inclusive, cenário das prostitutas do filme Estômago, gravado aqui em 2007.

Outro lugar que serviu de cenário ao filme Estômago, foi o Jokers Pub. Esse bar existe há cerca de 20 anos e tem uma estrutura muito legal para eventos porque tem ambientes separados para o restaurante, pub e espaço de shows. O espaço de shows é, na minha opinião, um dos melhores de Curitiba: acomoda 350 pessoas com conforto, ar condicionado e equipamentos de som e luz de primeira qualidade. E ainda tem o charme do palco ser separado da plateia por cortinas de veludo vermelho, como num teatro ou cabaré antigo. Eu comecei a frequentar o Jokers em 2006, no meu primeiro Psycho Carnival, evento que até hoje acontece lá anualmente.

Acredito que no show de ontem a casa estivesse com meia lotação, pois, apesar de movimentado, o espaço não estava muito cheio e foi possível ver o show com bastante conforto. Já de início muito diferente do evento de domingo passado no CWB Hall, né. Para minha alegria, o rolê começou super cedo, cheguei lá por volta de 19h15 e a primeira banda subiu ao palco pontualmente às 19h30. Eu não sabia o que esperar do The Laws Kill Destroy além de um setlist composto por músicas do Sarcófago, e, ainda assim a banda me surpreendeu muito.

A energia dos caras no palco foi incrível, com destaque para a interação de Rodrigo Malevolent com o público. A uma dada altura ele percebeu que na plateia não havia ninguém com menos de 30 anos e brincou que o público todo tinha idade pra ter visto o Sarcófago tocar. O pior é que era verdade kkk. Foi bonitinho também quando o vocalista chamou o público à beira do palco para cantar o refrão de Midnight Queen, penúltima música do setlist, que foi seguida de Nightmare, música que semana passada encerrou também o show do Mystifier. Eu não tenho uma música favorita do Sarcófago, mas gosto muito de Prelude to a Suicide, que a banda tb tocou no show de ontem.

No horário previsto, às 20h45, os finlandeses do Archgoat subiram ao palco. O Archgoat está listado no Metal Archives como black/death metal, mas, para mim, eles são só black mesmo. O que os difere à primeira vista do black metal tradicional são os vocais que, em vez de rasgados, são baixos (no sentido de grave), como no brutal death metal. A banda foi formada em 1989, ano em que eu nasci, mas teve dois períodos de hiato em sua produção: primeiro entre 1993 e 1999, depois entre 1999 e 2005, quando a banda voltou de vez à atividade e lançou novos discos quase anualmente.

Para assistir esse show, achei um canto bem em frente ao palco, do lado direito e dali não saí o show inteiro. Dessa vez quis fazer diferente do evento passado, em que fiquei zanzando feito barata tonta para fazer fotos e vídeos e não consegui curtir tanto o som. Plantada ali, consegui filmar alguma coisa, fazer algumas fotos e, principalmente, curtir a banda. O show foi extraordinário! É impressionante como usando as mesmas afinações de guitarra e baixo, além do mesmo vocal, em TODAS as músicas eles conseguem que cada música fique diferente da outra. Foi engraçado também perceber que eles estavam todos bêbados, especialmente o vocal/baixista que travou numa posição com o pé apoiado sobre a caixa de retorno e toda vez que se mexia, desequilibrava. Ele deve ter uns 2m de altura, ia ser difícil segurar um cara desse tamanho se caísse kkkk

Isso, no entanto, não interferiu na qualidade do show que eles fizeram. Foi, sem sombra de dúvida, um dos shows mais brutais que já assisti, e a empolgação me fez esquecer um pouco o esgotamento provocado pelas crises de ansiedade. O setlist foi bem abrangente, com músicas bem antigas e outras mais recentes. Eles também tocaram clássicos como Jesus Christ Father of Lies, Goat and the Moon, e Nuns, Cunts… . No bis, eles lançaram músicas mais antigas, como Black Messiah, Soulflay e Penis Perversor. Outra coisa que eu tentei reparar durante o show era se o vocal/baixista e o guitarrista eram fisicamente parecidos. Eles são gêmeos fraternos, ou seja, não idênticos, e o corpse paint não deixava ver as feições de cada um. Só notei que são ambos magros e bem altos.

Quando o show acabou eles cumprimentaram o público muito brevemente e saíram vazados. Deu pra ver que um deles cambaleava e é certo que tenha saído de lá para tomar mais uma. Foi depois do show que encontrei Igor, guitarrista do The Laws Kill Destroy, a quem eu tinha conhecido pelo Instagram desse blog. Conversei brevemente com ele e os amigos que o acompanhavam, mas eu me sentia estranha e tava difícil conversar. Quando o lugar já se esvaziava, por volta das 22h30, peguei um chopp e sentei num cantinho. Eu costumo esperar o show e, consequentemente, a cobertura acabar para tomar alguma bebida.

A noite acabou com uma torta de climão quando meu amigo se juntou a mim trazendo meu ex-namorado, de quem ele ainda é amigo. Tentei ser amigável, mas a verdade é que não existe mais nenhum assunto em comum. A mágoa que sinto, infelizmente, ainda não deu lugar a um merecido desprezo. Enfim, ossos de se envolver com alguém do role. Esse erro eu não cometo mais. Logo chamei um Uber, feliz porque ainda era cedo. Eu teria adorado esticar a noite se tivesse ânimo.

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