Essa crônica encerra a saga do feriado de 15 de novembro, descrita aqui fora de ordem.
Sábado cheguei do show da Bianca del Rio perto de meia noite e estava absurdamente cansada. Tomei meus viáticos e acordei quase às 17h horas do dia seguinte sem sabem sequer em que planeta estava. Eu tinha duas escolhas, tomar outro viático e voltar a dormir, ou ir para o Lado B ver o show do Ethel Hunter.
Perguntei a alguns amigos se alguém iria a esse show, mas os meninos continuavam em SP e o Daniel disse que precisava estudar. Pouco depois, Cíntia mandou uma mensagem chamando para ir até o Lado B, o que considerei um sinal para ir. Peguei um Uber imediatamente, porque se sentasse de volta ia desistir de sair. Veja bem, eu estava destruída de uma maratona que começou na quarta-feira com um aniversário, incluiu uma viagem a São Paulo e um retorno apressado para outro show em Curitiba.
Cheguei no Lado B por volta das 20h e passei uns 20 minutos esperando minha amiga. O Lado B é um bar já tradicional nas imediações do centro histórico de Curitiba. Herdeiro da tradição dos botecos underground como o Lino’s, o Lado B(bum) recebe shows gratuitos de bandas autorais de qualquer gênero underground que acontecem especialmente aos domingos entre as 20h e as 22h.
Embora se trate de um lugar predominantemente frequentado por héteros, é um bar que tem pessoas trans/nb entre seus funcionários, e onde ninguém nunca mexeu comigo por frequentar o bar sozinha. É um botecão roots onde me sinto bastante confortável, apesar de um ou outro bêbado mala que sempre resolve puxar papo. Quem gere o Lado B com mão de ferro é o casal Babbur e Regina.
Eu não imaginava que, apesar das 17h horas contínuas de sono, ainda estaria tão cansada. Como o bar estava cheio e não tinha onde sentar lá dentro, sentei no degrau de uma porta de ferro que sempre fica fechada tomando uma água com gás. Cíntia chegou para atualizarmos as fofocas, logo o show do Ethel Hunter começou, e eu basicamente n consegui sair do lugar kkkk.
O Ethel Hunter é uma banda de brutal death metal aqui de Curitiba capitaneada pela vocalista Larissa Pires. Larissa é dona de um gutural sinistro, que dá peso ao som brutal da banda. O Daniel sempre fala que Ethel Hunter tem um subtexto de Cannibal Corpse, mas eu honestamente não sei se enxergo essa nuance. Ele manja de metal bem mais que eu (porque é um nerdão), então vamos aceitar que seja isso mesmo: brutal death quase chegando no gore/grind.
O show teve por volta de uma hora de duração e marcou o início de uma nova fase da banda com nova logo, e novos singles do álbum Uncertainty of Existence. O que eu gosto mesmo no Ethel Hunter é que eles ralam bastante; estão sempre abrindo para bandas de fora — como foi o caso do Napalm Death — e tocando por conta em gigs locais como o Lado B e o 92 Graus. Isso faz com que o público consiga acompanhar o crescimento da banda e as transformações em seu estilo musical muito mais do que se aparecesse esporadicamente. Tem quem diga que essa frequência faz enjoar da banda, mas para mim é o oposto disso. Gosto de poder comparar diferentes performances e perceber diferenças mais sutis.
Mas bom mesmo é ouvir death metal sentadinha, deixando que o entretenimento venha até mim tal qual em um banquete na corte.
O rolê serviu rodinhas de fofoca anti-imperialista, propaganda norte-coreana, e uma longa digressão sobre o amor conduzida por ninguém menos que o Jovem — dono do 92 Graus e autoproclamado último romântico do underground — que foi brutalmente interrompida por dois malucos saindo no soco na sarjeta. Teve garrafada, gente rolando no chão, gente tentando separar e quase apanhando junto… o melhor do entretenimento insalubre da noite curitibana.
O Babbur, dono do bar, falou grosso pra separar a briga e mandou que cada um dos brigões seguisse seu rumo num sentido diferente da rua. O moço que levou a garrafada foi embora com a testa sangrando, mas o que começou a briga, uma figurinha carimbada dos roles da Trajano Reis que estava acompanhado de sua digníssima genitora, ficou por ali enchendo o saco mais um tanto, tentando arrumar mais briga.
Foi quando me despedi da Cíntia e seguimos cada uma para sua casa de Uber. Mais um domingo perfeitamente normal e salutar (rysos) na noite curitibana.
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