Cradle of Filth e Uada tocaram aqui em Curitiba na sexta-feira, 22 de agosto. Engraçado que Cradle não é muito meu estilo, mas eu estava super animadíssima para vê-los ao vivo porque adoro a teatralidade que a banda leva para o palco. Eu também queria muito ver o Uada porque, mesmo tendo ouvido pouco essa banda, a expressividade do black metal que eles criam me cativa bastante. É uma banda que soa diferente do que a gente conhece de black metal dos Estados Unidos, sei lá.

Em todo lugar na internet se diz que o nome Uada quer dizer “assombrado” em latim. Eu não falo latim, mas conheço o suficiente de História para desconfiar de toda e qualquer tradução, especialmente daquelas que a gente não consegue estabelecer base comparativa a partir de fontes históricas. A bem da verdade, acho que o nome Uada soa ridículo e nenhum significado traduzido me convence do contrário kkkk

Porém, diferente do nome besta, a experiência estética associada à banda é incrível. Primeiro, porque o som tem uma qualidade atmosférica envolvente; a meu ver, é como se criasse uma paisagem sensorial que envolve a percepção física do som. Acho que a banda enfatiza essa atmosfera intencionalmente ao ocultar a identidade e a aparência de seus integrantes, que sobem ao palco vestindo largos capuzes cobrindo seus rostos. E segundo porque a cenografia do show é incrivelmente simples e super incomum: Todos os fresnéis da parte de cima do palco ficam desligados, assim a iluminação se concentra apenas no nível do chão. Além disso, são usadas apenas luzes brancas intensas, mas provavelmente com algum tipo de filtro difusor. E, para completar, muito gelo seco! O efeito é o recorte das silhuetas dos músicos contra a luz, que se espalha pelo ambiente refletida na fumaça. É simples e genial.

Olha, já vi muito show começar atrasado, mas juro que foi a primeira vez que vi um show começar adiantado. Na divulgação feita nas redes sociais da produtora o show de abertura começaria às 19h40. Cheguei no Tork às 19h40 cravado, e o Uada já tinha tocado a primeira música. Entrei correndo e me ajeitei num lugar próximo ao meio do palco, mas não muito lá na frente. Na verdade não tinha muita gente no show de abertura, imagino que pela dificuldade de sair do trabalho às 18h, ir até em casa, tomar um banho, ajeitar o look, essas coisas. Até pra mim que trabalho em home office esse horário ficou meio apertado.

Quando o Uada saiu do palco havia muita gente chegando, e boa parte do pessoal que estava na grade no primeiro show continuou ali segurando lugar para o show do Cradle. A casa encheu consideravelmente para o show principal, mas ainda assim não chegou a encher. A capacidade de público do Tork’n’Roll é de 2200 pessoas, e o pessoal do bar adora usar isso para dizer que eles são ~o maior bar de rock da América Latina~. Esse marketing é meio cafona, mas a casa realmente é excelente: a pista estava confortável, o lugar não ficou abafado e a qualidade do som estava impecável.

Não fiz questão de ir para o meio da pista para ver o segundo show, me encostei ali perto da mesa de som, e durante o setlist aproveitei para dar umas voltas e flagrar como estava o público. Para se ter uma ideia, a última vez em que eu havia escutado Cradle of Filth tinha sido quando eles lançaram Nymphetamine, em 2004. Quando a turnê brasileira foi anunciada, há alguns meses, aproveitei para ouvir sem compromisso o último disco da banda, The Screaming of the Valkyries, lançado ano. Achei o som super bacana, tem uma construção sonora complexa, mas não considero que dê pra chamar esse estilo de black metal. Eu chamaria de qualquer coisa melódica, sinfônica, sei lá. A verdade é que tenho maior preconceito com banda que tem tecladista KKKKKKKKKK

(Aparentemente o líder da banda, o vocalista inglês Dani Filth, também tem um problema com tecladistas, já que cinco musicistas – todas mulheres – já passaram pela formação do Cradle of Filth de 2010 para cá).

O setlist foi variado, incluindo faixas do último lançamento, os grandes sucessos, além de algumas músicas da discografia mais antiga. Como só conheço as músicas mais poperô, senti falta de Dusk and Her Embrace, do álbum de mesmo nome lançado em 1996, e aproveitei para filmar quando eles tocaram Nymphetamine, que postei no insta do blog como reels. Todas as fotos e vídeos que fiz ficaram horríveis, e essa minha falta de talento para a produção de imagens acaba me prejudicando quando tenho que atuar como ~comunicadora~ de mídias sociais. Make blog de texto great again (please).

O preço do ingresso foi um fator determinante para o recorte de público do evento; a princípio imaginei que ia ver um povo mais juvenil – será que os jovens ainda se identificam com Cradle of Filth? – mas na verdade a maioria do pessoal estava na faixa dos 30 a 40, realizando ali o sonho de uma adolescência tardia. Inclusive fiquei impressionada que mesmo após décadas a técnica vocal do Dani Filth continua impecável. Imagino que ele treine muito e faça acompanhamento com os melhores especialistas para manter a voz assim.

Por terem começado super cedo, os shows terminaram em um horário velho-friendly, às 22h. Até eu que tenho zero bateria social acabei esticando ali mais uma horinha, mas às 23h o bar voltou à sua programação normal de bandas cover e eu aproveitei a deixa para ir embora. Banda cover é contra a minha religião, e eu sou muito religiosa kkkkk

Esse rolê foi bacana porque a proporção de mulheres entre o público era de mais ou menos 40% para 60% de homens. Também pude encontrar as meninas que fazem parte de um grupo de mensagens de que participo, e quando tem mais mulheres no rolê costumo me sentir bem mais segura em relação àquela preocupação de ficar sozinha esperando carro na saída do lugar. Até cheguei a comentar no grupo sobre essa preocupação, e várias delas se identificaram com esse tipo de problema e relataram experiências de desconforto, apreensão e até de assédio. Essa oportunidade de diálogo foi bem esclarecedora para mim, e abriu a possibilidade de trabalhar com entrevistas semiestruturadas em algum momento da pesquisa. De resto, só gostaria de ter tempo para escrever com maior regularidade. Os posts que faço no Instagram também estão erráticos, mas é o melhor que temos para o momento.

Assim que possível, vou preparar um roadmap com os próximos shows que acontecerão nesse semestre, porque são muitos. Neste final de semana Fleshgod Apocalypse toca na Ópera de Arame como abertura para o Epica, mas não vou porque tenho alergia a metal melódico. Assim, acredito que o próximo show de metal extremo que a cidade nos reserva será em 18 de setembro, um quinta-feira em que os estadunidenses do Malevolent Creation dividirão o palco com Krisiun e Contortion no Stage Garden (antigo CWB Hall). Até lá espero trazer mais algumas reflexões sobre a cena metal e o “mercado” da música.

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