A relação entre o Brujeria e o público brasileiro representa um fenômeno sociocultural específico, marcado pela contestação e pelo pertencimento. Desde sua origem, o grupo adotou uma estrutura simbólica articulada com uma representação da marginalidade, fazendo uso de elementos do imaginário do narcotráfico, da violência e da resistência política como instrumentos de crítica social. Essa proposta encontrou, no Brasil, um contexto propício para a recepção e negociação desses elementos.
Marcado pela extrema desigualdade estrutural, o Brasil é território histórico de conflitos urbanos e uma tradição de desconfiança em relação às instituições. Nesse cenário, expressões culturais que articulam rebeldia, ironia e denúncia encontram um público receptivo. O Brujeria surge nesse espaço como uma manifestação que traduz, em linguagem musical extrema, tensões sociais vividas coletivamente. A estética da banda, construída em torno do anonimato, do discurso antissistema e do uso de uma identidade fictícia de criminosos e revolucionários, funciona como uma forma de resistência simbólica. Ao projetar a figura do “bandido” como protagonista, o grupo inverte a lógica de criminalização e transforma o estereótipo em ferramenta de crítica política.
O público brasileiro, especialmente aquele inserido nas identidades culturais do metal extremo, interpreta essa performance de forma consciente. O apelo do Brujeria não está na representação literal da violência, mas na possibilidade de expressar coletivamente a insatisfação com estruturas de poder percebidas como opressoras. O espaço do show se converte, assim, um ambiente de encenação política e ritualização do conflito. A vivência intensa do público consiste também em uma forma de interação simbólica que reforça um sentimento momentâneo de pertencimento a um grupo coeso e oposicional.
As numerosas turnês da banda pelo Brasil ao longo de quase duas décadas indica um processo de consolidação dessa relação. Além de um potente destino de mercado, o país também é campo de legitimação cultural para o Brujeria. A constância das apresentações e a extensão dos circuitos de shows para além dos grandes centros demonstra que a conexão envolve uma ampla rede de fãs que compartilham valores de resistência e autonomia.
De um ponto de vista analítico, a interação entre o Brujeria e seus fãs brasileiros pode ser interpretada como um exemplo de comunidade afetiva. O vínculo é sustentado menos pela figura dos integrantes e mais pela experiência compartilhada de enfrentamento simbólico. Mesmo após as mortes de Juan Brujo e Pinche Peach, a banda mantém relevância porque as identidades coletiva do público são mais duradouras que a biografia dos músicos. A própria continuidade da turnê em 2025, dedicada à memória de ambos, reforça esse aspecto: o público busca, sim, entretenimento, mas também anseia pela experiência coletiva construída em torno da resistência cultural.
Desse modo, creio que a relação entre o Brujeria e o Brasil constitui uma rede própria de significados construídos entre a expressão artística e contextos sociais nos quais as noções de violência, poder e marginalidade fazem parte da experiência cotidiana. Se, por um lado, a banda produz um discurso simbólico que permite ao público elaborar essas tensões, o público, por sua vez, dá concretude a esse discurso. Poderia, enfim, tratar-se de um ecossistema cultural, no qual o caos é forma de comunicação e a lealdade é expressão de reconhecimento mútuo entre artista e público.

SERVIÇO
Brujeria em Curitiba
Data: 14 de outubro de 2025 (terça-feira)
Local: Jokers Pub (Rua São Francisco, 164 – Centro)
Ingressos: A partir de R$ 150 no site www.clubedoingresso.com
Realização: Estética Torta
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